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"... O sonho pelo qual brigo, exige que eu invente em mim a coragem de lutar ao lado da coragem de amar..." Paulo Freire Educador pernambucano

sexta-feira, 11 de março de 2011

Tacaimbó:Roma do Agreste ou Terra de Vespasiano?

Por Adauto Guedes Neto[1]

A referida indagação citada aqui como título da presente reflexão que me vi comedido a fazer, surge a partir da efervescência política que paira em Tacaimbó imediatamente posterior às eleições presidenciais de 2010.

Mas, qual seria a relação existente entre tais acontecimentos e o título proposto? O que aproximaria Tacaimbó a Roma do Imperador Vespasiano, tão distantes pelo espaço temporal? As disputas pelo poder público municipal na mencionada cidade tem um histórico concentrado em situação e oposição, ou seja, entre dois candidatos apenas, exceção que se verifica na década de 1980 com os candidatos Antônio Guedes e Senon em momentos distintos e ambos

apoiados pela Igreja e trabalhadores do campo que se apresentam como terceira via.Porém, o que percebemos atualmente rompe um pouco com a lógica tradicional, já que
vários são os nomes que se lançam, podemos inclusive ter três ou até mesmo quatro candidatos, muito embora por enquanto sejam apenas intenções. No entanto o que vem nos chamando a atenção é que por mais que o tempo passe as velhas práticas permanecem e se consolidam com o apoio de uma sociedade cada vez mais anestesiada com a política de favores e encantos das festas que promovem a cultura da vulgarização, gerando como sabemos sérias conseqüências na formação ética das pessoas. Mas, o que está em jogo é algo mais importante do que temas como valores éticos ou coisa do gênero, o que importa é criar adeptos e seguidores, e desta feita recorre-se à velha política do Panem et circenses.

Tal prática ocorreu na antiga Roma e a citada expressão Pão e Circo teria sido verbalizada pelo Imperador Vespasiano quando da construção do Coliseu. A mesma caracteriza-se por promover espetáculos, festas, lutas de gladiadores para divertir a população e distribuir pão com intuito de distrair o povo em relação a sua situação social, mantendo o povo dócil e alienado.

Isto é o que vem ocorrendo em Tacaimbó, ou seja, a prática mais comum para arregimentar força e atrair seguidores tem sido uma reprodução com algumas ressalvas da chamada política do pão e circo. Distribuição de cestas básicas, festas com distribuição de bebidas e nenhuma preocupação em construir um projeto que tire Tacaimbó do caos em que se encontra: jovens drogados, embriagados, pais desempregados, ruas escuras e esburacadas, assassinatos à luz do dia, enfim nada que aponte para um discurso e atitude de pelo menos amenizar a grave crise social anunciada a cada passo que damos nesta cidade.

É para esconder justamente os problemas acima citados que utiliza-se a tal política do panem et circenses, pois o povo conforma-se mesmo sabendo que não há uma parede levantada com recursos próprios do município, não há um projeto social, de lazer ou esporte com verbas municipais, pois tal recurso está sendo utilizado para pagar uma quantidade enorme de casas alugadas e satisfazer interesses pessoais, está sendo utilizada para inchar a máquina a ponto da Justiça obrigar a demissão de cargos comissionados por ultrapassar o limite de utilização da verba municipal com pagamento de funcionários, mas como diria os Mutantes em música gravada em fins da década de 1960: “as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer”.
Respeitável público, o circo tem distração para todos os gostos!!!

Mas eu não quero me tornar platéia para o circo que se monta em Tacaimbó e a melhor maneira de fazer isso é estar discutindo um projeto alternativo, que respeite o cidadão e aponte caminhos sólidos do ponto de vista social e cultural. Basta nos livrar da cegueira que nos impuseram e iremos perceber a importância social da escolinha de futebol do ex-vereador Álvaro, a relevância cultural dos projetos de poesia e arte ministrado por Adones Valença (belojardinense que deu sua contribuição a Tacaimbó) e que teve como culminância o aproveitamento de paredes em ruínas pela cidade para expor poesias e o projeto de música e literatura de cordel organizado por Ivanar Nunes e Jailton que tentaram incultir na nossa juventude o resgate de nossas raízes e a atenção para a deliciosa música popular brasileira. O povo estava lá e aplaudiu, não foi forçado a ir, mas convidado, não houve distribuição de bebida ou carne para atrair o público, pois rompeu-se com a prática do pão e circo e quem estava lá percebeu que outros caminhos são possíveis.

É preciso estarmos atentos ao atual momento que cerca Tacaimbó e as cenas que virão, pois é muito fácil conquistar multidões instantaneamente com o uso da força, seja ela física, psicológica ou financeira, mas difícil mesmo é reconhecer os erros do passado, construir soluções para o presente e garantir um futuro melhor para todo(as), porque se não for assim continuaremos sendo a Roma do agreste ou a terra de Vespasiano, porém sem a força que fez de Roma o maior Império da antiguidade clássica ocidental.

[1] Professor de História da Rede Estadual de Ensino, Graduado em História-FABEJA, Especialista em Ensino de História-UPE e História do Brasil-FAFICA, mestrando em História pela UFPE.

Fonte: http://agrestepolitico.blogspot.com

quinta-feira, 10 de março de 2011

Um filme sem sexo

Para refletir!

As mulheres não são homens!

A cultura patriarcal tem uma dimensão particularmente perversa: a de criar a ideia na opinião pública que as mulheres são oprimidas e, como tal, vítimas indefesas e silenciosas. Este estereótipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade de inovação política das mulheres.

No passado dia 8 de março celebrou-se o Dia Internacional da Mulher. Os dias ou anos internacionais não são, em geral, celebrações. São, pelo contrário, modos de assinalar que há pouco para celebrar e muito para denunciar e transformar. Não há natureza humana assexuada; há homens e mulheres. Falar de natureza humana sem falar na diferença sexual é ocultar que a “metade” das mulheres vale menos que a dos homens. Sob formas que variam consoante o tempo e o lugar, as
mulheres têm sido consideradas como seres cuja humanidade é problemática (mais perigosa ou menos capaz) quando comparada com a dos homens. À dominação sexual que este preconceito gera chamamos patriarcado e ao senso comum que o alimenta e reproduz, cultura patriarcal.


A persistência histórica desta cultura é tão forte que mesmo nas regiões do mundo em que ela foi oficialmente superada pela consagração constitucional da igualdade sexual, as práticas quotidianas das instituições e das relações sociais continuam a reproduzir o preconceito e a desigualdade. Ser feminista hoje significa reconhecer que tal discriminação existe e é injusta e desejar activamente que ela seja eliminada. Nas actuais condições históricas, falar de natureza humana como se ela fosse sexualmente indiferente, seja no plano filosófico seja no
plano político, é pactuar com o patriarcado.


A cultura patriarcal vem de longe e atravessa tanto a cultura ocidental como as culturas africanas, indígenas e islâmicas. Para Aristóteles, a mulher é um homem mutilado e para São Tomás de Aquino, sendo o homem o elemento activo da procriação, o nascimento de uma mulher é sinal da debilidade do procriador. Esta cultura, ancorada por vezes em textos sagrados (Bíblia e Corão), tem estado sempre ao serviço da economia política dominante que, nos tempos modernos, tem sido o capitalismo e o colonialismo. Em Three Guineas (1938), em resposta a um pedido de apoio financeiro para o esforço de guerra, Virginia Woolf recusa, lembrando a secundarização das mulheres na nação, e afirma provocatoriamente: “Como mulher, não tenho país. Como mulher, não quero ter país. Como mulher, o meu país é o mundo inteiro”.


Durante a ditadura portuguesa, as Novas Cartas Portuguesas publicadas em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, denunciavam o patriarcado como parte da estrutura fascista que sustentava a guerra colonial em África. "Angola é nossa" era o correlato de "as mulheres são nossas (de nós, homens)" e no sexo delas se defendia a honra deles. O livro foi imediatamente apreendido porque justamente percebido como um libelo contra a guerra colonial e as autoras só não foram julgadas porque entretanto ocorreu a Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974.

A violência que a opressão sexual implica ocorre sob duas formas, hardcore e softcore. A versão hardcore é o catálogo da vergonha e do horror do mundo. Em Portugal, morreram 43 mulheres em 2010, vítimas de violência doméstica. Na Cidade Juarez (México) foram assassinadas nos últimos anos 427 mulheres, todas jovens e pobres, trabalhadoras nas fábricas do capitalismo selvagem, as maquiladoras, um crime organizado hoje conhecido por femicídio. Em vários países de África, continua a praticar-se a mutilação genital. Na Arábia Saudita, até há pouco, as mulheres nem sequer tinham certificado de nascimento. No Irão, a vida de uma mulher vale metade da do homem num acidente de viação; em tribunal, o testemunho de um homem vale tanto quanto o de duas mulheres; a mulher pode ser apedrejada até à morte em caso deadultério, prática, aliás, proibida na maioria dos países de cultura islâmica.

A versão softcore é insidiosa e silenciosa e ocorre no seio das famílias, instituições e comunidades, não porque as mulheres sejam inferiores mas, pelo contrário, porque são consideradas superiores no seu espírito de
abnegação e na sua disponibilidade para ajudar em tempos difíceis. Porque é uma disposição natural. não há sequer que lhes perguntar se aceitam os encargos ou sob que condições. Em Portugal, por exemplo, os cortes nas despesas sociais do Estado actualmente em curso vitimizam em particular as mulheres. As mulheres são as principais provedoras do cuidado a dependentes (crianças, velhos, doentes, pessoas com deficiência). Se, com o encerramento dos hospitais psiquiátricos, os doentes mentais são devolvidos às famílias, o cuidado fica a cargo das mulheres. A impossibilidade de conciliar o trabalho remunerado com o
trabalho doméstico faz com que Portugal tenha um dos valores mais baixos de fecundidade do mundo. Cuidar dos vivos torna-se incompatível com desejar mais vivos.

Mas a cultura patriarcal tem, em certos contextos, uma outra dimensão particularmente perversa: a de criar a ideia na opinião pública que as mulheres são oprimidas e, como tal, vítimas indefesas e silenciosas.

Este estereótipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade de inovação política das mulheres. É assim que se ignora o papel fundamental das mulheres na revolução do Egipto ou na luta contra a pilhagem da terra na Índia; a acção política das mulheres que lideram os municípios em tantas pequenas cidades africanas e a sua luta contra o machismo dos lideres partidários que bloqueiam o acesso das mulheres ao poder político nacional; a luta incessante e cheia de riscos pela punição dos criminosos levada a cabo pelas mães das jovens assassinadas em Cidade Juarez; as conquistas das mulheres indígenas e islâmicas na luta pela igualdade e pelo respeito da diferença, transformando por dentro as culturas a que pertencem; as práticas inovadoras de defesa da agricultura familiar e das sementes tradicionais das mulheres do Quénia e de tantos outros países de África; a resposta das mulheres palestinianas quando perguntadas por auto-convencidas feministas europeias sobre o uso de contraceptivos: “na Palestina, ter filhos é lutar contra a limpeza étnica que Israel impõe ao nosso povo”.


Boaventura de Sousa Santos
é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).


fonte: www.cartamaior.com.br

terça-feira, 8 de março de 2011

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

Hoje é o Dia Internacional da Mulher e no mundo inteiro as mulheres saem às ruas para reivindicar igualdade, melhores condições no trabalho, pela legalização do aborto, pelo fim das discriminações, contra a lesbofobia, por liberdade e por direitos.

É um dia de comemorar as conquistas e, ao mesmo tempo de seguir lutando. É uma data muito especial para o feminismo e para o socialismo. O Dia Internacional da Mulher foi proposto por Clara Zetkin em 1910 no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas.
Na foto, Clara Zetkin (1857-1933) com Rosa Luxemburgo a caminho do Congresso do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) em 1910.


Mas é também uma data muito importante pelo simbolismo que ela representa, uma vez que agrega mulheres de todos os continentes contra as opressões, contra a hierarquia entre os sexos.

Nós vivemos numa sociedade dominada pelo sexo masculino, ainda com muitos privilégios para os homens.

No começo do mês, li uma matéria que me fez pensar como ainda temos que lutar.
Era uma notícia sobre a pesquisa da Fundação Perseu Abramo "Mulheres Brasileiras e gênero nos espaços público e privado", realizada em agosto de 2010 (www.perseuabramo.org.br), entre os assuntos investigados, chama a atenção o tema da violência contra a mulher.

O estudo foi feito em 25 Unidades da Federação, ouvindo 2.365 mulheres e 1.181 homens, com idade acima de 15 anos, atingindo áreas urbanas e rurais de todas as macrorregiões do país. A pesquisa mostra que a cada 2 minutos cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil.

A violência contra a mulher é um entre tantos exemplos de como ainda é preciso agir. Ainda é preciso muita luta pela igualdade de direitos. Penso nas mulheres negras. Nas agricultoras. Nas trabalhadoras domésticas. Nas mulheres lésbicas.

O racismo é estruturante das hierarquias que se criam na sociedade, como diz a ministra da Igualdade racial, Luiza Bairros. E com as mulheres negras, o racismo e elevado ao cubo.

No campo, a sobrecarga de trabalho das mulheres começa antes mesmo de amanhecer o dia e compreende a atividade na roça, a responsabilidade de cultivar os produtos que fazem parte da mesa da família e o cuidado da casa e dos filhos, considerada uma atribuição das mulheres.

As mulheres estão em todos os lugares e aparecem sempre como cidadãs de segunda categoria. E ainda vai demorar um tempo para mudar esse quadro.

É preciso transgredir. Romper. As regras, as normas, o que nos impõe o patriarcado.
É preciso enfrentar a misoginia, a violência de gênero, as desigualdades políticas econômicas e sociais.

É isso.

O feminismo é uma luta política contra a misoginia e a opressão histórica contra as mulheres. É um movimento ideológico, social e político. Mas é também uma forma de estar no mundo. Sigamos em frente. Nenhum direito a menos e alguns direitos a mais.