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BELO JARDIM, NE/Pernambuco, Brazil
"... O sonho pelo qual brigo, exige que eu invente em mim a coragem de lutar ao lado da coragem de amar..." Paulo Freire Educador pernambucano

quinta-feira, 30 de março de 2017

Poesia nossa de cada semana!



Poeta e haikaista, Alice Ruiz nasceu em Curitiba, PR, em 22 de janeiro de 1946.
 Começou a escrever contos com 9 anos de idade,
 e versos aos 16.
 Aos 26 anos publicou pela primeira vez seus poemas em revistas e jornais culturais.
 Lançou seu primeiro livro aos 34 anos.

Era uma vez

uma mulher que

via um futuro grandioso

para cada homem

que a tocava.

Um dia

ela se tocou


A Cultura do Estupro precisa morrer!

Foto capturada no google


          No mês de março, tão significativo para as mulheres, a nossa cidade acorda com a trágica noticia de um estupro.  Pasmem! por volta das 07h00 da manhã, quando a moça se dirigia ao trabalho. Que mundo é esse? 

             Esse caso de Belo Jardim, está longe, muito longe de ser um caso isolado, pois, a cada 11 minutos, ocorre o estupro no Brasil. Situação essa que acontece em todas as classes sociais e independente de cor ou credo. Acontece em todos os espaços na universidade, nas baladas, na rua, nas igrejas, na casa de mamãe/papai... A violência naturalizada contra a mulher é de fato muito DEMOCRÁTICA.



              Esse crime traz a tona uma problemática enfrentada pelas mulheres cotidianamente, através da cultura do estupro. Essa cultura é real e muito presente na nossa sociedade, a importância de combatê-la é urgente e necessária, requer um trabalho continuo, muitas vezes desgastante, no entanto é preciso entender de uma vez por todas ou a gente arregaça as mangas e vai a luta ou continuaremos a sofrer esse mal.



               Precisamos combatê-la em todos os momentos, principalmente no nosso cotidiano, nas piadas machistas, na vulgarização da figura feminina pela mídia, nos assédios sexuais sofridos por todas em todos os lugares onde quer que a gente vá. É preciso repudiar tudo isso e de fato denunciar.

                    É preciso repudiar "botando a boca no mundo", é preciso que o nosso grito seja ouvido, não dá mais pra segurar a violência urbana institucionalizada que assola nossa cidade e que nos coloca sempre em situação de risco iminente e que cerceia o nosso direito de ir e vir. Se hoje o medo toma conta de todas nós no momento em que temos que sair para o trabalho, para a escola... enfim

                    Esse tipo de crime é uma reprodução da cultura machista, patriarcal e misógena existente na nossa sociedade e que não fere apenas a vítima, mas todas as mulheres!

                   É preciso agir, ir a luta, isso é crime hediondo e não pode ficar impune. Não há mais espaço para a banalização do estupro.



* É hora de clamar por justiça!

* De exigir dos poderes constituídos dessa cidade uma atuação humanizada e o fortalecimento da rede de atendimento para as mulheres em situação de violência!

* É hora de debater todo e qualquer assunto na Escola e dizer não a essa reforma proposta pelo MEC!

* É hora de entender que a LUTA no combate a violência passa por cada uma de nós, e que só terá êxito com o nosso EMPODERAMENTO, respeito não se ganha, se conquista e é o nosso conhecimento que irá nos garantir DIREITOS & RESPEITO!


Se a gente não cuidar, os retrocessos PASSARÃO!, já tramita no congresso uma lei que precisa se comprovar os casos de estupro!





Sempre há uma luz!







foto capturada do google


       Nem tudo está perdido, na medida em que o descaso toma conta dos órgãos que deveriam cuidar dessas mulheres, na medida em que a violência avança, aumenta também a resistência.

        Coletivos feministas têm sido criados por meninas cada vez mais jovens. As redes sociais, por sua vez, estimulam a organização de grupos de protestos e o compartilhamento de experiências, permitindo desde as manifestações de repúdio até a mobilização da militância, dando ainda mais força a uma militância que já existia.




        A juventude vem abrindo o caminho em meio a covardia de uma sociedade machista e doente. E é com essa juventude que as minhas energias se renovam.



        No último dia 19/03, uma juventude guerreira de Belo Jardim ocupou a Praça Padre Cícero para debater o tema da Violência. É o COLETIVO DESABROCHAR, surgindo com uma força enorme.  



        Além do tema Violência, foi abordado o tema Sororidade, pois se faz necessário uma união de fato entre as mulheres. O conceito de Sororidade está fortemente presente no feminismo, sendo definido como um aspecto de dimensão ética, política e prática desse movimento. Desse ponto de vista, consiste no não julgamento prévio entre as próprias mulheres, que na maioria das vezes, ajudam a fortalecer  estereótipos preconceituosos criados por uma sociedade machista e patriarcal.

        “A Sororidade é hoje, um dos principais alicerces do feminismo, pois sem a ideia da irmandade o movimento não conseguirá ganhar proporções significativas para impor suas reivindicações. ”



Karinny Oliveira - Instituto Maria da Penha
Foto: jadiel Silva
Adilza Silva - Prof. de História
Foto: Jadiel Silva


Maéve Oliveira - Estudante de Música/cantora
foto: Katherynne Bezerra

Foto: Katherynne Bezerra

Foto: Jadiel Silva

Jacy Lima - Atriz
Foto: Katherynne Bezerra
Katerynne Bezerra - Jornalista
Foto: Jadiel Silva

Bernardina Araújo - Prof. Mestre em Educação de Gênero
foto: Jadiel Silva



O espaço foi de muito debate, muita troca de experiência e realizado no único espaço democrático de fato A RUA/PRAÇA.

Secretaria da Mulher: "Tem nos ajudado"?



Achar-se situada à margem do mundo não é posição favorável para quem quer recriá-lo.

(Simone de Beauvoir)


            A criação das Secretarias de Políticas Públicas para as mulheres foi uma importante ferramenta para o desenvolvimento de ações voltadas especificamente para essa parcela da sociedade, (diga-se de passagem, maioria da população) nos últimos anos. Mas, como nem tudo é “lilás” estamos vendo a olho nu o sucateamento e desvalorização desses órgãos na maioria das cidades, e, a nossa, com toda certeza não foge a regra.

        Fico “cá com meus botões”, ora, se não havia interesse/compromissos de fato com a boa atuação dessa secretaria quando havia uma secretaria em nível federal, com status de ministério, com carta branca para ouvir a sociedade organizada, imagino o que será daqui para a frente com o faz de conta das “políticas públicas” desse governo golpista, já estamos vendo, cultos evangélicos já estão acontecendo no gabinete (Leia aqui).

foto capturada no site Carta Capital

        A secretaria da Mulher, das cidades em geral, aqui me reporto a Secretaria da nossa cidade, Belo Jardim, precisa entender a necessidade de ouvir as mulheres, a sociedade organizada pelo menos. Precisa entender que, um projeto de intervenção, com ações voltadas para uma melhor qualidade de vida das mulheres têm que perpassar por todas as secretarias, que se faz necessário um grande investimento em capacitação de pessoal. Se faz necessário e urgente, entender que as campanhas pontuais de conscientização não bastam para disseminar o conhecimento dos serviços aos quais as vítimas têm direito. Estas ações deverão ser continuas e em todos os espaços da administração pública.

        Nos causa indignação e perplexidade saber que as mulheres desta cidade, mesmo sendo maioria da população e consequentemente maioria da população eleitoral, não significam nada nessa administração.

        É preciso entender que o bom atendimento às mulheres em geral, e, principalmente às vítimas de violência deve ser a porta de entrada para um mundo de garantia de direitos.


        A crescente violência não acontece só pela falta do efetivo policial, ela soma-se ao descaso com o atendimento às mulheres vítimas de violência. E ainda a falta de informação.




Lei Maria da Penha: Avanços & Entraves

“É inaceitável que uma em cada três mulheres no mundo sofram violência em algum momento de suas vidas. ”
(Phumzile Mlambo-Ngcuka/Diretora Executiva da ONU Mulher)



imagem capturada do google

A Lei 11.340/2006, conhecida nossa como a Lei Maria da Penha, é um grande avanço na história de luta das mulheres contra a violência, ela vai muito além da punição para esse tipo de crime, ela determina a criação de juizados especializados, alterou os códigos civil e penal e prevê medidas protetivas de urgência, que devem ser concedidas em até 48 horas. Ao tempo em que reduziu a pena mínima de lesão corporal de seis para três meses ela aumentou a máxima de um para três anos. Outro ponto de suma importância dessa lei, é o de que a mulher só pode desistir da investigação em juízo e depois da primeira audiência, não mais na delegacia como era de costume. Há 10 anos, tempo da Lei Maria da Penha, o número de denúncias cresceu muito bem como, o número de casos levado a justiça.

         No entanto, nem tudo são flores, mulheres de todas as classes se deparam ainda com o preconceito existente nas delegacias e até entre advogados, não encontram apoio psicológico adequado tampouco orientações jurídicas, e assim sendo, um número grande de mulheres optam pelo arquivamento do processo.

Flávia Pires- Debate na Prça
Foto: Katheryne Bezerra

         Aqui em Belo Jardim, não temos uma Delegacia da Mulher, e a que temos trabalha com muita precariedade, não por falta de vontade ou descaso, mas, por falta de efetivo, segundo Flávia Pires (que trabalha na delegacia diretamente com o atendimento as mulheres vítimas de violência, exceto feminicídio) o efetivo é muito pequeno “... não chega a 10 pessoas, isso contando com o delegado e escrivão”.  Ela diz ainda, que o atendimento às mulheres é no horário comercial, mas que a delegacia funciona 24 horas. A dificuldade da mesma é a de conseguir atender essas mulheres já que esse tipo de violência se agrava mais nos finais de semana, e o acumulo de serviço, assim sendo, muitas vezes não tem condição de procurar essas mulheres. Flávia é escrivã, mas por ser mulher e adepta das causas feministas o delegado a nomeou para esse atendimento. No entanto a mesma não recebeu nenhum treinamento específico para sua atuação. "... o governo federal tem um programa de cursos a distância, via internet, pela rede Senaspe, os cursos variam de semestre para semestre, mas eu nunca vi um específico para casos de violência sexual, mas existe curso para o combate a violência contra mulher..."

           Quando questionada sobre feminicídios e estupro, Flávia Pires nos informa que: " aqui em Belo Jardim, não há muitos registros, apesar de mulheres serem mortas por conta da violência o feminicício pouco aparece, apenas dois casos e há mais de dois anos, sobre estupro, a incidência também é pequena." Para esse caso, acreditamos  no medo que perdura até os dias atuais, das mulheres prestarem queixas.

     
        “Garantir a aplicabilidade da Lei Maria da Penha requer o fortalecimento de uma rede integrada de proteção as vítimas; capacitação dos agentes dos serviços de atendimento; e não apenas punir o agressor, mas evitar que a violência aconteça. ” Não dá mais para viver além da violência doméstica a violência institucional e o descaso do Estado.

         Uma questão, também importante segundo a ótica de Flavia Pires, é o apoio da família para esses casos. Segundo ela, nos casos onde se pode aplicar a fiança, é a própria família do agressor, que arranja o dinheiro e assim sendo, o individuo é liberado, não passa por nenhum serviço de atendimento e consequentemente vai reincidir da agressão ou com a mesma mulher, ou com outras mulheres.

Sob diversas formas e intensidades, a violência contra mulheres é recorrente e presente no mundo, motivando assim graves violações de direitos humanos e também crimes hediondos.


E isso precisa acabar, e para isso as mulheres precisam estar unidas e além dessa "união" entender de uma vez por todas, não estamos aqui para ser a salvadora do mundo, isso precisa ser desconstruído de uma vez por todas!


A Lei Maria da Penha, repito, já tem 10 anos, e precisa ainda de muitos 10, pra ser colocada em prática totalmente. O caminho ainda é longo e com muitos espinhos, cabe a nós sociedade civil, semear as flores desse caminho! E como disse um dia o Frei Betto, "As trilhas da história foi toda marcada por batom".