Reflexões Adilsonianas N°
24
Sobre os 100 Anos
de Vinícius de Moraes e o Outro Vinícius.
Num dia ensolarado,
mais precisamente em 26 de novembro de 1993, nascia Marcus Vinícius de Lemos
Filho: meu filho mais velho e “especial”. Ao escolher esse nome, tão singelo e
bonito, eu desejava homenagear o poetinha Marcus Vinícius de Moraes pelos seus
80 anos. Vinícius, o meu filho, não virou um poeta, não escreveu sobre o amor,
sequer pôde amar tantas mulheres como o outro Vinícius. A vida lhe segredou
outros mistérios, outras veredas. Sua poesia é muita complexa para nossa vã
filosofia. Trata-se de uma poesia diferente, pois não se escreve com linguagem
alfabética. Ela é feita da gramática dos gestos, afetos e desejos – os quais
muitas vezes simplesmente não compreendemos.
Vinicius, o meu
poetinha, me desafia todos os dias a aprender a ler poemas e acordes mais
complexos e dissonantes, extravagantes, tanto quanto foi a poesia concreta dos
irmãos Campos. Sua
concretude se define no ab-“surdo” dos gestos e nos “Cem Sentidos” que o seu
Ser expressa, Seu corpo é poesia porque feito de linguagens. Linguagem no
plural e por isso é rico, complexo, imprevisível, in-dizível. Tentar definir
esse meu poetinha é o mesmo que tentar aprisiona-lo a um conceito inflexível, a
uma verdade elaborada por uma dada ciência. Mas a ciência nada sabe sobre
poesia e mistério. Como diz Rubem Alves, a ciência só pesca os peixes que se
encaixam nas redes dos seus conceitos. Essas redes não servem pra pescar peixes
ambivalentes e que habitam nas águas turvas e profundas do oceano da
(in)consciência humana.
Por essa razão, creio que sua poesia é feita para
nos impactar, “tirar” do sério, colocar-nos na “terceira margem do rio”. A sua
poética como a do outro Vinícius é feita para “ser eterna enquanto dura”,
“posto que é chama”. Uma duração feita de filigranas de gestos, ruídos e palavras
ine(narráveis), mas que se eternizam em nossos corpos e mentes. Conviver com a
sua poesia de-li-ran-te e di-la-ce-ran-te, mas ra-di-cal-men-te a- mo – ro – sa
é uma experiência ímpar e singular que precisamos (eu principalmente) apreender
e vive-la a cada dia. Tomá-la pra mim da maneira mais para-doxal possível, pois
somente assim, talvez, seja possível compreender “as encruzilhadas do
labirinto”. Parabéns aos dois Vinícius, que nos interpelam a amar a vida
enquanto ela está aí, fervente.