Por:
Carlos Alberto Brasiliano Campos
Tivemos a sorte de viver nos fins da ditadura militar. Talvez pensemos que ela não nos afetou. Lembro quando no nosso Colégio Agrícola o Padre Sampaio foi proibido de dar aulas e sucateado na biblioteca. O lugar menos freqüentado pelo alunado naqueles tempos, simplesmente porque tinha coragem de falar. Falar sobre a repressão enquanto Marcos Maciel calava. Falar sobre a corrupção, enquanto José Mendonça construía seu patrimônio milionário. Falar sobre distribuição de renda, enquanto Cintra Galvão iludia os pobres de Belo Jardim. Em nossos sonhos, sonhos de estudantes nordestinos, estavam chegar em São Paulo ou Rio de Janeiro. Um dia tive a sorte de estagiar em São Paulo e dar uma passadinha no Rio, fins da década de setenta. Fiquei chocado com as pistas que nos levavam a Barra da Tijuca. Escavada, em muitos pontos, nos paredões de pedras da serra do mar, uma se sobrepondo a outra. Em São Paulo, na cidade de Rio Claro, a diversão nos domingos era ver campeonato de balonismo. Pegávamos um trem super luxuoso da capital para o interior. Os parentes moravam na capital. Moravam em cortiço. Vinte quartinhos, um por família, e um só banheiro, frio. Voltei achando que estivera no exterior. Aquilo era o Brasil que queríamos. A nossa ponte do Ipojuca, na BR 232, havia caído há seis anos. Éramos tratados como os miseráveis do pais. Muitas vezes nos foi oferecido esmola quando em Colatina, no Espírito Santo, ou em Campinas-SP, nos identificávamos como Nordestinos. Muito conquistamos nos últimos 20 anos. Essas conquistas, conquistas Nordestinas, fazem com que os nossos não precisem mais sair da nossa terra para conseguir um emprego digno. Estamos deixando de ser um depósito humano, porque não dizer, um campo de concentração de trabalhadores desqualificados para as tarefas menos humanas e mal remuneradas do eixo Rio-São Paulo. O Padre Sampaio, como era conhecido, talvez tenha escapado com vida por ser de família influente no estado e país. Centenas morreram nas mãos da ditadura militar. Os que lutaram contra a censura, a repressão, as prisões e os desaparecimentos, os direitos dos cidadãos, e que continuaram vivos, em qualquer país do mundo é considerado herói. No meu Brasil, onde as desigualdades estão sendo diminuídas, a democracia esta sendo fortalecida e cada dia somos mais respeitados no mundo, os combatentes a ditadura militar são heróis. A mídia pode entupir seu domingo com palavrões, com pornografias, com mulher/homem objeto a venda e com todos os tipos de inutilidades, se você assim permitir. De mesma forma meus heróis não serão os debilóides que estão trancados numa casa ou numa fazenda, explorando o que de pior existe na espécie humana. Meus heróis continuam sendo os que lutaram para que o nordestino pudesse se orgulhar da região onde vive. Meus heróis tiraram trinta milhões de pessoas da faixa de pobreza. Meus heróis não correram a se exilar espontaneamente em outros paises, ficaram e lutaram. Meus heróis sabem quais são as armas dos que se intitulam corretos e poderosos, sem o ser. Ao atribuir frases aos meus heróis, eles sabem se defender. Acreditar que Dilma falou “nem Jesus Cristo tira essa vitória” em plena campanha política e como favorita, é ser muito inocente ou maquiavélico. Temos Eleições livres nas Escolas Agrotécnicas e CEFETs (Institutos Federais). Quem ganha leva, sem essa de lista tríplice ou de conselho diretor, escolhido pelo diretor em exercício. O diretor eleito que tenta voltar ao passado, fazendo da escola sua, perde o emprego. Não aceitamos mais diretores com mandatos de 15 anos. Fora os dirigentes que vinham a Belo Jardim se banquetear com as filhas da nossa terra, em fazendas de amigos, a troco de verbas para construção de uma sala de aula. Se quisermos e respeitamos o direito democrático, repudiamos esse passado, votamos Dilma Presidente.