Os movimentos rápidos das mãos desafiam as dores causadas pela artrite. A visão nesse momento já é função do tato. Um olho ávido por mudanças em cada dedo, uns segunram a linha outros a agulha.
O ritmo é frenético. Os olhos da face buscam apenas os limites do ambiente e os ouvidos, ah! esses tentam captar os debates e as reflexões filosóficas d@s visitantes de cada dia. As mãos se ocupam da arte no afã de ajudar a mente a resolver problemas diários. Vez por outra ela troca os afazeres da tecelã por uma xícara de café fresco. O cheiro se espalha pela casa e atrai novas visitas.
_ O que estás a tecer?
_ Não sei - escorrega da boca daquela moça de quase meio século.
A imaginação detalha a trama fio a fio. Ao seu lado, a filha tagarela mais de trezentas palavras por segundo. E a moça apenas tenta "reacender a chama da existência graças a uma tecelagem permanente e inconclusa." Ontem cortina, hoje almofada, mas tarde apenas um novelo refeito pronto para o recomeço, "apeça ganha forma um encosto de cadeira ou um xale? Que importa? Depois viria outro e mais outro, todos inacabados para serem desmanchados um a um, como Penélope à espera de Ulisses".
Tece durante a noite desfia todo o dia. A mentira do sossego por ela inventada a faz tecer e desmanchar. A faz recomeçar com a mesma linha no dia seguinte. Aquela moça tece para despir os olhos de todos os preconceitos.
De todos os tipos de violência.
Ela proclama o silêncio como ato de profunda subversão. Tece e se desconecta do mundo, assim, pensa ela, elimina da alma todos os ruídos que a inquieta. Ela tecendo, primava de sentidos as palavras ao seu redor. Tece e faz do seu corpo esquálido mero adereço estranho ao espírito.
Ela senta em sua cadeira desconfortável em meio a uma total desorganização de objetos e fumaça de cigarro e faz seu crochê fazendo da solidão abrigo.
Tecendo ela reconhece o valor de cada palavra contida. Reconhece a importância do recuo.
Tece hoje, destece amanhã e a mente vai cultivando paradoxos e não guardando nenhuma certeza.
Aquela moça, orgulhosa, "quaje onipotente" dia após dia vai tecendo!
Aquela é uma moça que TECE, FIA e AFIA um mundo melhor!
Adilza Cristina da Silva
Prof.Especialiasta em Programação do Ensino de História
Petista, sindicalista...
(baseado no conto de Fátima Quintas - Tecendo)
O ritmo é frenético. Os olhos da face buscam apenas os limites do ambiente e os ouvidos, ah! esses tentam captar os debates e as reflexões filosóficas d@s visitantes de cada dia. As mãos se ocupam da arte no afã de ajudar a mente a resolver problemas diários. Vez por outra ela troca os afazeres da tecelã por uma xícara de café fresco. O cheiro se espalha pela casa e atrai novas visitas.
_ O que estás a tecer?
_ Não sei - escorrega da boca daquela moça de quase meio século.
A imaginação detalha a trama fio a fio. Ao seu lado, a filha tagarela mais de trezentas palavras por segundo. E a moça apenas tenta "reacender a chama da existência graças a uma tecelagem permanente e inconclusa." Ontem cortina, hoje almofada, mas tarde apenas um novelo refeito pronto para o recomeço, "apeça ganha forma um encosto de cadeira ou um xale? Que importa? Depois viria outro e mais outro, todos inacabados para serem desmanchados um a um, como Penélope à espera de Ulisses".
Tece durante a noite desfia todo o dia. A mentira do sossego por ela inventada a faz tecer e desmanchar. A faz recomeçar com a mesma linha no dia seguinte. Aquela moça tece para despir os olhos de todos os preconceitos.
De todos os tipos de violência.
Ela proclama o silêncio como ato de profunda subversão. Tece e se desconecta do mundo, assim, pensa ela, elimina da alma todos os ruídos que a inquieta. Ela tecendo, primava de sentidos as palavras ao seu redor. Tece e faz do seu corpo esquálido mero adereço estranho ao espírito.
Ela senta em sua cadeira desconfortável em meio a uma total desorganização de objetos e fumaça de cigarro e faz seu crochê fazendo da solidão abrigo.
Tecendo ela reconhece o valor de cada palavra contida. Reconhece a importância do recuo.
Tece hoje, destece amanhã e a mente vai cultivando paradoxos e não guardando nenhuma certeza.
Aquela moça, orgulhosa, "quaje onipotente" dia após dia vai tecendo!
Aquela é uma moça que TECE, FIA e AFIA um mundo melhor!
Adilza Cristina da Silva
Prof.Especialiasta em Programação do Ensino de História
Petista, sindicalista...
(baseado no conto de Fátima Quintas - Tecendo)
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