Por Adauto Guedes Neto[1]
A referida indagação citada aqui como título da presente reflexão que me vi comedido a fazer, surge a partir da efervescência política que paira em Tacaimbó imediatamente posterior às eleições presidenciais de 2010.
Mas, qual seria a relação existente entre tais acontecimentos e o título proposto? O que aproximaria Tacaimbó a Roma do Imperador Vespasiano, tão distantes pelo espaço temporal? As disputas pelo poder público municipal na mencionada cidade tem um histórico concentrado em situação e oposição, ou seja, entre dois candidatos apenas, exceção que se verifica na década de 1980 com os candidatos Antônio Guedes e Senon em momentos distintos e ambos
apoiados pela Igreja e trabalhadores do campo que se apresentam como terceira via.Porém, o que percebemos atualmente rompe um pouco com a lógica tradicional, já que
vários são os nomes que se lançam, podemos inclusive ter três ou até mesmo quatro candidatos, muito embora por enquanto sejam apenas intenções. No entanto o que vem nos chamando a atenção é que por mais que o tempo passe as velhas práticas permanecem e se consolidam com o apoio de uma sociedade cada vez mais anestesiada com a política de favores e encantos das festas que promovem a cultura da vulgarização, gerando como sabemos sérias conseqüências na formação ética das pessoas. Mas, o que está em jogo é algo mais importante do que temas como valores éticos ou coisa do gênero, o que importa é criar adeptos e seguidores, e desta feita recorre-se à velha política do Panem et circenses.
Tal prática ocorreu na antiga Roma e a citada expressão Pão e Circo teria sido verbalizada pelo Imperador Vespasiano quando da construção do Coliseu. A mesma caracteriza-se por promover espetáculos, festas, lutas de gladiadores para divertir a população e distribuir pão com intuito de distrair o povo em relação a sua situação social, mantendo o povo dócil e alienado.
Isto é o que vem ocorrendo em Tacaimbó, ou seja, a prática mais comum para arregimentar força e atrair seguidores tem sido uma reprodução com algumas ressalvas da chamada política do pão e circo. Distribuição de cestas básicas, festas com distribuição de bebidas e nenhuma preocupação em construir um projeto que tire Tacaimbó do caos em que se encontra: jovens drogados, embriagados, pais desempregados, ruas escuras e esburacadas, assassinatos à luz do dia, enfim nada que aponte para um discurso e atitude de pelo menos amenizar a grave crise social anunciada a cada passo que damos nesta cidade.
É para esconder justamente os problemas acima citados que utiliza-se a tal política do panem et circenses, pois o povo conforma-se mesmo sabendo que não há uma parede levantada com recursos próprios do município, não há um projeto social, de lazer ou esporte com verbas municipais, pois tal recurso está sendo utilizado para pagar uma quantidade enorme de casas alugadas e satisfazer interesses pessoais, está sendo utilizada para inchar a máquina a ponto da Justiça obrigar a demissão de cargos comissionados por ultrapassar o limite de utilização da verba municipal com pagamento de funcionários, mas como diria os Mutantes em música gravada em fins da década de 1960: “as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer”.
Respeitável público, o circo tem distração para todos os gostos!!!
Mas eu não quero me tornar platéia para o circo que se monta em Tacaimbó e a melhor maneira de fazer isso é estar discutindo um projeto alternativo, que respeite o cidadão e aponte caminhos sólidos do ponto de vista social e cultural. Basta nos livrar da cegueira que nos impuseram e iremos perceber a importância social da escolinha de futebol do ex-vereador Álvaro, a relevância cultural dos projetos de poesia e arte ministrado por Adones Valença (belojardinense que deu sua contribuição a Tacaimbó) e que teve como culminância o aproveitamento de paredes em ruínas pela cidade para expor poesias e o projeto de música e literatura de cordel organizado por Ivanar Nunes e Jailton que tentaram incultir na nossa juventude o resgate de nossas raízes e a atenção para a deliciosa música popular brasileira. O povo estava lá e aplaudiu, não foi forçado a ir, mas convidado, não houve distribuição de bebida ou carne para atrair o público, pois rompeu-se com a prática do pão e circo e quem estava lá percebeu que outros caminhos são possíveis.
É preciso estarmos atentos ao atual momento que cerca Tacaimbó e as cenas que virão, pois é muito fácil conquistar multidões instantaneamente com o uso da força, seja ela física, psicológica ou financeira, mas difícil mesmo é reconhecer os erros do passado, construir soluções para o presente e garantir um futuro melhor para todo(as), porque se não for assim continuaremos sendo a Roma do agreste ou a terra de Vespasiano, porém sem a força que fez de Roma o maior Império da antiguidade clássica ocidental.
[1] Professor de História da Rede Estadual de Ensino, Graduado em História-FABEJA, Especialista em Ensino de História-UPE e História do Brasil-FAFICA, mestrando em História pela UFPE.
Fonte: http://agrestepolitico.blogspot.com
Um comentário:
Belo Texto
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