Cê Jura?
Por Walter Hupsel
Acabaram as eleições municipais. Depois de meses de noticiários e análises que visavam o pleito, temos os eleitos e os derrotados. Como gostam de chavões, "a voz das urnas" se manifestou. Na verdade, as vozes se manifestaram, polifônicas, com ruídos e microfonias, por vezes cacófatos.
É uma massa enorme, que por vezes dificulta o entendimento dos ditos especialistas. Cada lugar tem vicissitudes e pautas específicas, problemas, arranjos de força, composições partidárias, história e histórias.
Analisar as eleições municipais necessitaria ver cada um dos vetores em cada uma das cidades, ou, ao menos, dos grandes colégios eleitorais. A soma de votos, apenas, ou o número de prefeituras conquistadas, é importante, mas sozinhos pouco dizem sobre a "voz das urnas".
Por enquanto há apenas um grande derrotado: os analistas que nos provêem comentários sobre as eleições. Fora honrosas exceções, estes senhores misturaram os que desejariam que acontecesse com o que desejariam que acontecesse. Sim, pura vontade travestida de análise política.
Assim escolhem por onde olhar. O PT não ganhou em Salvador, mas cresceu suas prefeituras em mais de 40% na Bahia. Ganhou ou perdeu?
Mas o caso mais paradigmático é mesmo São Paulo. Fernando Haddad começou a campanha com ínfima intenção de voto, desconhecido que era. Isso é mais que normal em todas as campanhas, mas os "analistas" se apressaram em culpar Lula, em dizer que Haddad foi uma imposição do ex-presidente, como se todos tivessem que se prostrar perante Lula.
Seletivamente, esqueceram de apontar o dedo para as estranhas prévias no ninho tucano de São Paulo .
Tentavam assim mostrar Lula como um ditador interno ao PT e José Serra como um democrata. Este foi declarado "vencedor" pelo imortal Merval Pereira, como o candidato que, atenção, aspas: "mais une o PSDB"
Também anteviam fortemente a derrota do "poste". Se a candidata fosse Marta Suplicy, disseram, a situação seria radicalmente diferente. O PT teria alguma chance. Com a interferência do ex-presidente ditador, uma enorme derrota petista avizinhava-se.
A campanha mal começara e a tese do grande perdedor reverberava. E aí veio a tal foto com Maluf. Pronto. Pá de cal na candidatura Haddad, o poste imposto pelo ex presidente estava politicamente morto. Mais que suficiente para declarar a inabilidade política dele.
Por fim, ahhh, por fim o "mensalão". Os analistas famosos insistiam, repetiam, falavam "mensalão" a cada duas palavras. Um mantra que tentava se fazer entoado por todos, como uma musica pop grudenta.
Em certa medida a estratégia pegou. Inúmeras pessoas passaram a cantarolar a música, que tentava fazer do PT o partido antiético por excelência, e que votar em Fernando Haddad era votar na corrupção, quando votar no PSDB era votar na ética, mesmo quando os dados não sustentam esta tese, por motivos óbvios.
Com o resultado das urnas, as vozes roucas e polifônicas são usadas de acordo com o desejo dos analistas. O "poste imposto", o "representante" "do maior escândalo de corrupção da república", foi eleito com quase 56% dos votos válidos, contra o eterno candidato, ex-ministro, ex-governador, ex-prefeito, José Serra.
Em 2000, na última vitória do PT na prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, sem ser um "poste" ou "mensaleira" derrotou Paulo Maluf com 58% dos votos.
Com estes resultados, a saída para os tais analistas desejosos foi cravar: o PT ganhou, mas ganhou menos do que gostaria.
Como dizem por aí: Cê jura?
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