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"... O sonho pelo qual brigo, exige que eu invente em mim a coragem de lutar ao lado da coragem de amar..." Paulo Freire Educador pernambucano

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A opinião pública em Bordieu.


Por: João Adriano Oliveira

O pesquisador Pierre Bourdieu (1973) analisa rigorosamente a questão da opinião pública buscando apresentar de forma crítica seu funcionamento e suas funções. Para ele o caráter ingenuamente democrático, de que a produção de uma opinião esteja ao alcance de todos é contestável. De fato a opinião pública, tal qual a percebemos resulta mais da produção de fatos e ficções postas pela mídia para o cidadão comum do que da percepção dos fatos por ele percebidos e avaliados; lembremos que a ação crítica, que vai além de uma visão acomodada é exceção a regra; sobretudo numa sociedade de exclusão e de desigualdades como a capitalista.

Ao ler matérias relacionadas com a educação municipal, tantos fatos e eventos documentados pelas câmaras fotográficas nos fizeram refletir a proposição e os fins dessa exaustiva tentativa de colocá-la como sendo de qualidade e de primeiro mundo.

Iniciaremos pelo questionamento da qualidade; nesse contexto que é qualidade? O que se pretende dizer com a expressão primeiro mundo?

Sem nos atermos ao sentido mesmo das diretrizes de gestão de qualidade e muito menos em mencionarmos a expressão primeiro mundo, fomos revisando as fotografias e identificamos um padrão comum: as cores e traços dessa qualidade...cores e padrões do DEM, sim, as cores e padrões de um partido político...

Confira a logomarca do partido e depois compare com a estampa da fachada de cada escola municipal reformada com verbas públicas e com a estampa do fardamento da Rede Municipal que cada criança num ato de flagrante desrespeito ao estado democrático é obrigada a ostentar. Em cada uma das grandes escolas municipais se deu um toque do partido, cada cerâmica e tinta posta na fachada padrão reproduzem a cor e o símbolo do DEM.

Viu como a opinião pública não existe, ou melhor, que ela é criada com um leve ou grosseiro empurrãozinho da máquina para promover a opinião das massas, em nosso caso, para a qualidade de uma educação que apresente a marca do partido do próximo candidato. Mas espera lá? Fazer propaganda eleitoral usando a máquina não é crime? Isso mesmo; o CONDICA já havia identificado esse abuso e relatado que na cidade de Caruaru o Ministério tinha movido uma ação e que as fardas com logomarca e cores partidárias distribuídas pela secretaria de educação daquele município tinham sido recolhidas.

Para Boudieu (1973) todas as concepções, compreendidas na chamada opinião pública não possuem um mesmo valor, dado que elas refletem mais essa opinião produzida sobre as qualidades forjadas numa propaganda do que na visão e na necessidade popular. Ademais, de acordo com o autor, pensar que há um acordo sobre as questões apresentadas nessa chamada opinião pública denuncia um flagrante pretexto para promover a anulação da diversidade que se configura num estado democrático, onde todos pagam impostos e merecem respeito e não devem ser submetidos a carregar as cores e a logomarca de um partido pelo qual não tem simpatia; ironicamente o nome democrático estaria na raiz etimológica da sigla do DEM.

Concluímos pela consideração de que a opinião pública, tal qual a conhecemos, nas fotografias e nos slogans de educação de primeiro mundo e de qualidade vinculadas à logomarca e as corres do DEM, ao menos aqui em nosso contexto diário, é a opinião pública que se pretende produzir na cabeça de nosso cidadão/eleitor, pior com o uso da máquina pública, flagrante crime administrativo e que serve apenas para mascarar a educação real vivenciada por cada aluno e professor diariamente nas escolas municipais.


Professor, especialista em psico-pedagogia.

Um comentário:

Helaine disse...

João, parabéns pelo texto, excelente contexto. ;)

Imaginei uma tese de mestrado baseado nesse assunto.